Josiris Bottene afirmou que o irmão era \"humilhado há anos\" por Oliveira, que era coordenador da Central de Vagas do Sistema Único de Saúde (SUS) de Piracicaba, e não sabia mais o que fazer para conseguir trabalhar. Além das discussões no trabalho, o homem também afirmou que o médico não estava mais conseguindo receber plantões no Samu por conta da desavença com o outro profissional e chegou a ter dificuldades financeiras por isso. \"Ele não tinha mais nada a perder. Ele chegou a dizer várias vezes que iria matar ou mandar matar, porque ele estava desesperado. O assédio moral era pesado. Ele teve que vender algumas coisas e ir trabalhar em outras cidades porque não conseguia trabalhar. Meu irmão era bondoso, não fazia mal a ninguém, mas ele disse que ia acabar matando esse médico por conta do assédio\", relatou Josiris Bottene, durante o enterro do irmão nesta quarta.

O homem ainda afirmou que o médico já havia comunicado a Prefeitura sobre o suposto assédio, mas a administração municipal \"nunca fez nada\". A Secretaria Municipal de Saúde afirmou que não existe nenhuma reclamação oficial registrada entre os dois médicos e que, por isso, não vai se manifestar sobre o assunto. O G1 tentou falar com a família de Deives Dias Oliveira durante o velório sobre as afirmações de Josiris, mas ninguém quis falar com a reportagem.

O crime aconteceu no refeitório da unidade na terça-feira (24), que fica na Avenida Doutor Paulo de Moraes, no bairro Paulista. O médico baleado morreu no local, enquanto o atirador foi socorrido, mas chegou sem vida ao hospital. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, Jorel Bottene era clínico geral e não estava na escala de trabalho desta terça. Ele chegou à unidade do Samu e atirou quatro vezes contra Oliveira.

Deives Dias de Oliveira assumiu a Secretaria da Saúde em 2013 (Foto: Thomaz Fernandes/G1)

Investigação

A Polícia Civil reiterou que continua com a linha de investigação do crime ter sido motivado por um desentendimento profissional entre os médicos. Segundo o delegado Ruy Luiz Ramires, responsável pelo inquérito, a irmã de Bottene informou à investigação que ouviu o homem comentar que estava chateado com o colega e que vinha sendo perseguido.

No entanto, Ramires afirmou que a polícia vai analisar outras possibilidades e, por enquanto, não descarta nenhuma suspeita – inclusive a de um envolvimento de uma terceira pessoa ou um crime passional.

\"Vamos investigar com certeza se uma terceira pessoa incentivou o médico a fazer isso ou até se pode ser um crime passional. No momento não podemos descartar nada, mas a primeira possibilidade é uma briga profissional\", disse o delegado.

Sepultamentos

O corpo de Oliveira, que foi secretário de Saúde interino em 2013, foi velado na Câmara de Vereadores e será sepultado na tarde desta quarta em Americana (SP). Já Jorel Bottene foi enterrado nesta manhã no Cemitério Parque da Ressurreição, em Piracicaba. O prefeito Gabriel Ferrato (PSB) decretou lutou oficial de dois dias pela morte dos dois profissionais.

A funcionária do Samu Maria Aparecida Matias esteve no velório de Oliveira e afirmou que ficou em pânico quando soube do crime. Além disso, ela desconhecia qualquer tipo de desavença entre os dois. “Eles eram amigos porque ali dentro um precisava do outro para se manter. Não dava pra notar nenhum atrito entre os dois”, contou.

Segundo ela, os médicos mantinham um bom relacionamento com a equipe. “Fiquei sem chão quando ouvi a notícia na rádio porque isso nunca passou pela cabeça de ninguém. É muito triste”, explicou a mulher.

Pistola 6.35 foi usada por médico para matar colega nesta terça em Piracicaba (Foto: Marcello Carvalho/G1)

Arma do pai

De acordo com a Polícia Civil, a arma usada pelo médico, uma pistola 6.35, era do pai dele. Uma técnica em enfermagem que trabalha no Samu de Piracicaba contou à investigação que estava na central e ouviu o barulho dos tiros.

Ela disse aos policiais que foi até a cozinha para ver o que estava acontecendo e encontrou Oliveira caído e Bottene também no chão e com a arma na mão. Procurada, a testemunha não quis comentar o assunto.

A EPTV, afiliada da Rede Globo, entrou em contato com a irmã de Bottene, que levou o médico até a unidade do Samu, pouco antes do crime. Ela também não quis falar sobre o caso com a reportagem.

O crime

Os tiros atingiram Oliveira em uma das pernas, no tórax, no abdômen e na cabeça, conforme a secretaria de Saúde do município. Em seguida, Bottene atirou contra o próprio peito. Ele foi levado pelos colegas de Samu até a Santa Casa da cidade, mas morreu a caminho do hospital.

O secretário de Saúde de Piracicaba, Pedro Antonio de Mello, lamentou o ocorrido. Segundo ele, desavenças pessoais podem ter motivado o crime.

\"Eram profissionais de alta qualidade e, inicialmente, não havia registros de conflitos entre eles no trabalho. É muito triste, nada que tenha acontecido justifica essa tragédia\", disse.

Motivações do crime na unidade do Samu em Piracicaba são desconhecidas (Foto: Claudia Assencio/G1

Médico do Samu atirou em colega e depois se matou na unidade de Piracicaba (Foto: Claudia Assencio/G1)