Só vale o ranking da economia?
O Brasil já chegou a ser a sexta economia global. Hoje não é mais. Apesar das múltiplas crises, ainda é uma das maiores do planeta. Mas isso é sinal de que o brasileiro vive no melhor dos mundos?
Obviamente não. Por inúmeras razões.
Basta mencionar uma delas. Se o marco do saneamento básico foi algo positivo,
isso é insuficiente para tranquilizar os angustiados. A situação é de gravidade
inimaginável. Pois nem haveria necessidade de estudos aprofundados para
concluir que vinte e quatro das vinte e sete unidades estaduais da Federação
precisarão investir pesadamente para alcançar metas de universalização.
Somente três Estados têm níveis satisfatórios de população servida com água potável e provida de coleta de esgoto. São o Distrito Federal, São Paulo e Paraná. Amazonas, quem diria, o reservatório de água doce que já causou inveja ao resto do mundo, tem apenas 35% de abastecimento de água e 7% de coleta de esgoto. Seguido de perto pelo Pará e Rondônia, que deixa 95% de seus habitantes sem esgoto coletado e pelo Maranhão, onde o percentual do atendimento é de 14%.
Faz lembrar os passos iniciais de
Winston Churchill no Parlamento Britânico, há exatos 119 anos, pois em dezembro
de 1901, duas semanas depois de ter completado 27 anos, escreveu a um amigo:
“vejo pouca glória num império que pode dominar as ondas, mas que não consegue
escoar seus esgotos”.
Era um político atento à pobreza e à
exclusão. Dizia aos políticos: “é agradável nos demorarmos nos extremos da
riqueza, mas não desejamos contemplar os extremos da pobreza”. A imaginação
política não era incentivada a pensar nos “bairros miseráveis, sótãos ocupados
e lugares pobres”. Propunha novo projeto para a Inglaterra, para que ela
priorizasse os excluídos: “Embora o império britânico seja tão grande, eles não
conseguem arranjar um lugar onde viver; embora seja tão magnificente, eles
teriam mais chance de serem felizes se tivessem nascido canibais numa ilha dos
mares do Sul”.
Insistia em que a política focasse
um alívio da pobreza: “não o dever de homem para homem nem as ideias de que o
esforço honesto numa comunidade rica deveria ser retribuído com certos direitos
mínimos nem que essas vidas em putrefação no nosso país transformam em objeto
de escárnio o poder mundial e desfiguram a imagem de Deus sobre a Terra, mas
sim o fato de que a pobreza é um sério obstáculo ao desenvolvimento”.
Quase 120 anos depois, essas
palavras deveriam ser gravadas em todos os gabinetes e em todas as repartições
estatais, para que os brasileiros tenham noção de que nada significa ser uma
das maiores economias do Planeta e conviver com a legião crescente e
desamparada de excluídos.
José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2019-2020.
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