É preciso ter força, sempre!
Quando penso nos desafios vividos pelas mulheres
no dia a dia, me recordo de “Maria Maria”, de Milton Nascimento. A canção que
foi consagrada na voz de Elis Regina retrata a vida de uma mulher cheia de
garra, que não desanima em meio às dificuldades e tem muita fé na vida para
alcançar seus objetivos.
E é assim que vejo cada mulher que encontro
nessa caminhada. Me surpreendo com histórias de superação, acolhimento,
solidariedade e, também, com a determinação para garantir espaço em ambientes
tão difíceis e, por vezes, machista.
Ser mulher no Brasil não é fácil. E ser mulher na política é ainda mais
complicado. Prefeituras, câmaras, Congresso, Senado, ministérios são espaços
ocupados, em sua maioria, por homens, onde o machismo, infelizmente, continua
prevalecendo.
Por maiores que sejam nosso grau de instrução e nosso conhecimento sobre a área
em que atuamos, temos que provar competência o tempo todo para ganhar o
respeito das pessoas.
Há algumas semanas, durante sessão da CPI da Pandemia, o ministro da CGU
(Controladoria-Geral da União) - Wagner Rosário, chamou a senadora Simone Tebet
de descontrolada ao ser questionado sobre a fiscalização do contrato da vacina
Covaxin. Simone é advogada, professora, escritora e sentiu na pele o que muitas
de nós vivemos na convivência com homens. O preconceito está presente em muitas
palavras e atitudes, infelizmente.
Nos espaços de poder, a violência psicológica produz na vítima o sentimento de
humilhação, fazendo com que ela se sinta incapaz e despreparada para o ofício
ao qual se propôs a exercer. É como se o agressor dissesse: “você não deveria
estar aqui”.
Outro caso de violência contra mulheres em cargos públicos ocorreu no norte do
nosso país. Em Oriximiná, município localizado no oeste do Pará, o prefeito
William Fonseca é acusado de espalhar boatos na cidade de 74 mil habitantes
sobre a vida sexual de três vereadoras de oposição. Os ataques ocorreram após
elas votarem a favor da abertura de um processo de cassação que apura a
contratação excessiva de funcionários.
A tática, nesse caso, é desqualificar as denunciantes a partir de um julgamento
moral por parte da população. Colocá-las em “praça pública”, atribuindo a elas
relacionamentos extraconjugais, para serem “apedrejadas” e descredenciadas ao
exercício do cargo para o qual foram eleitas legitimamente. Isso é violência
política e difamação.
O machismo é patológico, não tem vergonha nem limites. Em dezembro do ano
passado, a Assembleia Legislativa de São Paulo transmitiu ao vivo o momento em
que o deputado Fernando Cury passou a mão no seio da parlamentar Isa Penna, em
pleno plenário, durante a votação do orçamento do estado para 2021. Num acordo
entre cavalheiros, a importunação sexual foi resumida a apenas 180 dias de
suspensão do mandado de Cury, que poderá voltar a legislar em outubro, como se
nada tivesse acontecido.
Se o machismo dá guarida a ataques como o flagrado no Parlamento paulista, é
inacreditável o que acontece com as mulheres nos bastidores da política
brasileira. Quem não se lembra de quando o então deputado Jair Bolsonaro disse
que não estupraria a deputada Maria do Rosário porque ela não merecia, por ser
“muito feia”? Diante dessa afirmação, cabe a pergunta: alguém merece ser vítima
de tamanha brutalidade?
Quando a violência contra a mulher não é combatida, seja no ambiente doméstico,
político ou corporativo, pode evoluir ao último estágio, que é o assassinato. O
feminicídio político da vereadora Marielle Franco, cometido em março de 2018,
no Rio de Janeiro, e ainda sem solução, é um exemplo do ápice da violência
política contra mulheres.
Diante de um quadro tão complexo, é preciso ter “força, é preciso ter raça, é
preciso ter gana, sempre!”. Somos mais da metade da população e precisamos
continuar lutando para que essa representatividade se faça em todos os espaços
de poder, inclusive na política.
Uma grande aliada nessa luta é a Procuradoria Especial da Mulher (que,
inclusive, foi determinante no caso do Pará) em funcionamento em câmaras
municipais e assembleias legislativas, um instrumento pelo qual lutamos no
Congresso Nacional, quando presidimos a Comissão de Defesa dos Direitos da
Mulher e coordenamos a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos Humanos
das Mulheres no Congresso Nacional.
Apesar de tantas adversidades, seguimos lutando por uma sociedade em que a
capacidade e a competência não sejam mensuradas de acordo com a cor da pele,
sexo, origem, idade ou religião.
Ana Perugini é funcionária pública do TJ-SP, com formação em
direito pela PUC-Campinas e pós-graduação em gestão pública pela FGV/Perseu
Abramo. Mãe de três meninas, foi vereadora, deputada estadual e federal, quando
presidiu a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher. É autora do projeto que
cria o PIB da Vassoura
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