O inferno dos intelectuais
Num país em que à maioria não se propiciou a educação de qualidade a que todos os humanos têm direito – é preceito constitucional – fica difícil conceituar o que seja um intelectual.
Recorro a Umberto Eco, para quem é
fácil constatar um debate entre intelectuais profissionais – ou que assim se
auto proclamam – mas é difícil observar o verdadeiro exercício da função
intelectual. Mesmo porque, praticamente
impossível definir ‘função intelectual’. “Esta consiste em distinguir
criticamente aquilo que se considera uma aproximação satisfatória do próprio
conceito de verdade – e pode ser exercida por qualquer um, até mesmo por um
marginal que reflete sobre sua própria condição e, de alguma maneira, a
expressa, do mesmo modo como pode ser traída por um escritor que reaja aos
acontecimentos de modo passional, sem impor a si mesmo a decantação da
reflexão”.
Como se ouve uma ladainha de
absurdos nestes dias polarizados! Proferida por doutores, pós-doutores,
pensadores consagrados. Numa ideologização fanática, reiteram argumentos, dão
como verdadeiras afirmações inconsequentes propaladas pelas redes – manipuladas
por quem está diretamente interessado no futuro próximo da República. Não se
pejam de propalar leviandades. Quando a função insubstituível do formador de
opinião “é justamente escavar as ambiguidades para trazê-las à luz. O primeiro
dever do intelectual é criticar os próprios companheiros de estrada (‘pensar’
significa representar o papel do Grilo Falante). Pode acontecer que um
intelectual escolha o silêncio porque teme trair àqueles com quem se
identifica, pensando que, apesar de seus erros contingentes, eles perseguem, no
fim das contas, o bem máximo para todos”.
Essa é uma escolha confortável, mas
trafica. É feita por aqueles que “pensavam que não se pode barganhar a lealdade
com a verdade. Mas a lealdade é uma categoria moral e a verdade é uma categoria
teórica”.
Os intelectuais têm uma obrigação moral
de se posicionarem. Essa opção é inafastável. Quem se cala, perante o dever de tentar
aclarar as dúvidas de quem acredita nele, peca gravemente. Não existe céu para
o pusilânime ou para o falso. E é por isso que o inferno está repleto de
intelectuais.
José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
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