Abolição inacabada
No dia 13 de maio de 1888, a elite brasileira,
pressionada por uma constante e vigorosa luta popular, decidiu colocar um fim
ao regime escravocrata no país. No entanto, o fez de acordo com seus interesses
e nas condições que lhe interessavam.
Assim, além de ser o último país das Américas a
abolir a escravidão, o Brasil jamais reparou devidamente os crimes cometidos
contra de negros e negras africanos e seus descendentes. Ao contrário, o fez em
condições que provocaram gravíssimas consequências sociais que perduram até
nossos dias. Logo após a abolição, sem políticas públicas voltadas para ela, a
população negra se viu provada de moradia e alimentação e, sem outra
perspectiva, teve que assumir as ocupações mais mal remuneras, o trabalho
pesado. Muitos simplesmente ficaram sem nenhum trabalho assalariado. Via de
regra as famílias negras tiveram que morar nas periferias ou nos morros – como
no caso do Rio de Janeiro e outras cidades, sem nenhuma infraestrutura,
obrigados a viver em comunidades improvisadas que se tornaram as atuais
favelas.
Maioria da população brasileira, ainda hoje negros e
negras precisam desdobrar-se para conquistar condições de vida dignas. Sua
inserção em determinados segmentos da sociedade é desproporcional ao seu peso
populacional e é vista com desconfiança e preconceito. Poucos intelectuais,
professores, artistas, médicos, engenheiros e outros profissionais negros e
negras obtém justo reconhecimento pelo seu trabalho. Intencionalmente, a
história registrada e difundida pelas elites costuma manter apagadas ou
colocadas em segundo plano essas referências. Em muitos casos, a maioria da
população não sabe que muitas das pessoas que se destacaram na história
brasileira e que dão nome a importantes logradouros eram negras.
O racismo estrutural no nosso país é um fato
notório, insofismável. Os fatos se sucedem a todo momento e o preconceito está
arraigado em expressões, costumes, atitudes e, muitas vezes, resvalam para
ofensas e agressões. Ele está presente em muitas instituições, nos meios de
comunicação, na publicidade e, lamentavelmente, também no sistema educacional.
Os governos Lula e Dilma realizaram políticas
importantes. A criação da Secretaria Especial de Políticas para a Igualdade
Racial, com status de Ministério, o Estatuto da Igualdade Racial, política de
cotas, ENEM, FIES e outros programas que beneficiam a população negra foram
possíveis pela confluência entre a sensibilidade e compromisso desses governos
e a mobilização dos movimentos antirracismo.
Lamentavelmente, vemos hoje a destruição dessas
políticas e o recrudescimento da discriminação, violência, desamparo,
desemprego, miséria e fome, sob o incentivo do principal mandatário da nação e
suas políticas destruidoras.
Que a passagem deste 13 de maio sirva sempre para
nós fazer lembrar tudo o que é preciso corrigir, construir e avançar para a verdadeira
libertação do povo negro superando a abolição inacabada marcada por esta data.
Professora Bebel é deputada estadual pelo PT e presidenta
da APEOESP
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