Onde foi parar a virtude?
Educação, a gigantesca falha de um Brasil que pretende ser uma nação civilizada, está no discurso de todos. Principalmente dos que lucram com seus projetos, fazem consultorias pagas pelo Erário – portanto pelo povo – mas não enfrentam a sala de aula.
Um ensino fundamental que se limita
a fazer decorar informações desatualizadas e inservíveis para a vida, arremessa
para a Universidade jovens que não sabem ler. Pior ainda, que não gostam de
ler. A leitura se reduz a sumários, cada vez mais sumaríssimos. A linguagem
passou a ser uma espécie de onomatopeia. São os “kkk”, os “rs” ou os e-moji que
suprimem a necessidade de escrever e reduzem uma legião à linguagem gestual
quase simiesca.
Tudo isso porque se olvida que educar é propiciar o desenvolvimento das potencialidades que todo humano possui, numa vocação de perfectibilidade, até se atingir a plenitude possível. Mais ainda, é capacitar para o exercício da cidadania e qualificar para o trabalho.
São três propósitos que não podem
dispensar o cultivo da virtude. Só faz sentido educar para o bem. Para o
caminho reto. Para a disseminação de bons sentimentos. Para a comiseração
quanto aos necessitados, que são milhões.
Esquecemo-nos da tradição virtuosa,
que produziu exemplares raros de historiadores como João de Barros, que viveu e
escreveu na primeira metade do século 16. Suas poesias são consideradas obras
clássicas e há poucas crianças em Portugal que não saibam declamar estes
deliciosos versos, consagrados à filha em um de seus aniversários: “Põe na
virtude/Filha querida/De tua vida/Todo o primor. Não dês à sorte/Que tanto
ilude/Em tua vida/Algum valor. Tudo perece/Murcha a beleza/Foge a
riqueza/Esfria o amor. Mas a virtude/Zomba da sorte/E até da morte/Disfarça o
horror. Cultiva atenta/Filha mimosa/Sempre viçosa/Tão linda flor”.
Frases singelas, mas que lembram o
essencial: de nada vale a erudição, se com ela não se produzir um ser humano
sensível, capaz de partilhar seus dons, de considerar cada ser vivo um elo
imprescindível à preservação da vida. Aventura efêmera e finita, cujo maior
proveito é o incessante crescimento interior.
José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
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