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Santa Bárbara,01/05/2025

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Ana Perugini

As Páscoas e as travessias da vida de Dom Angélico

Imagem divulgação
As Páscoas e as travessias da vida de Dom Angélico Ana Perugini é deputada estadual e procuradora especial da Mulher na Assembleia Legislativa de São Paulo


A Pessach judaica comemora e relembra o Êxodo, a passagem dos filhos de Israel dos seus mais de 400 anos de escravidão no Egito para a Terra Prometida, onde se constituíram como um povo, o povo de Javé.

Os cristãos irão viver e reatualizar com a “nova Páscoa”, a paixão, a morte e a ressurreição do Cristo de Nazaré. Segundo as Escrituras, Maria percebeu e descobriu que não era um jardineiro que estava naquele cemitério mas Jesus, o Ressuscitado. Os discípulos de Emaús também vão descobrir e perceber que o companheiro de estrada era o Ressuscitado.

A percepção, mais do que uma fantasia ou um pensamento racional, representa nas Cartas de São Paulo um “sopro”, um “espírito” e “força” que os impulsionava a levar a memória da grande história, a história do povo hebreu e dos seguidores do Nazareno, para os caminhos e as travessias da vida.

João Guimarães Rosa ao andar pelo Vale do Jequitinhonha-MG, uma das regiões mais empobrecidas do Brasil, percebeu que naquele “grande sertão” havia “veredas”. Ao descobrir estes caminhos, o escritor colocou na boca de Diadorim a célebre fala:

“Digo: o real não está na saída e nem na chegada: ele se dispõe para a gente no meio da travessia.”

Nas estradas da vida sempre nos equilibramos e transitamos entre a nossa existência humana e o mundo real.

Dia 15 de abril de 2025 cessou a existência nesta vida de um grande brasileiro: Dom Angélico Sândalo Bernardino.

Nasceu em uma região de palmeirenses, Saltinho de Piracicaba em 1933. Viveu intensamente em Brasilândia e na Zona Leste de São Paulo, cercado de corintianos. Dom Angélico foi sacerdote em Ribeirão Preto. Foi sagrado bispo da Igreja Católica em 1975. Como bispo auxiliou Dom Paulo Evaristo Arns nas regiões mencionadas e foi o primeiro bispo na Diocese de Blumenau de 2000 a 2009.

Sua fala era firme e carregada de amor na defesa da justiça e dos direitos dos empobrecidos. Esteve ao lado dos tristes acontecimentos como o assassinato pela polícia do operário cristão Santo Dias e do estudante Alexandre Vannuchi Leme, morto pelos torturadores do DOICODI.  

Parece ter lido poesias de Manoel de Barros para o qual “A palavra amor anda vazia. Não tem gente dentro dela”. Dom Angélico escolheu no seu bispado o lema “Deus é amor”. Ele entendia que a maior expressão de amor era o compromisso com os mais pobres, com os direitos humanos e com os perseguidos pela causa da justiça. Por isto dizia que “fora do amor, não há salvação”.

Dom Angélico esteve ao lado dos trabalhadores nas greves dos anos 1970 e 1980. Esteve ao lado de Lula no momento de sua prisão. Conheceu sua família e batizou seus netos. O bispo estranhava a comemoração da Fiesp com o impeachment da Presidenta Dilma assim como a acumulação absurda de riquezas por parte da elite: “Os bens que o Pai deixou são para toda humanidade”, dizia. Ele faz parte da história da redemocratização do país.

Dom Angélico também leu Guimarães Rosa e entendeu que “a vida quer da gente é coragem”. Por isto a sua passagem e a sua Páscoa nos deixa uma memória viva: a de que lado devemos estar nas travessias e veredas do nosso país. E com coragem.

Boa Páscoa a todos!


Ana Perugini é deputada estadual e procuradora especial da Mulher na Assembleia Legislativa de São Paulo



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